Alexandre Rossi aborda comportamento animal e comunicação com cães
Alexandre Rossi (o Dr. Pet) esclarece dúvidas sobre o comportamento animal e fala das suas descobertas sobre a comunicação entre cães e humanos
Presente na 13ª edição da Pet South America – a principal feira do mercado pet realizada na América do Sul – o especialista em comportamento animal Alexandre Rossi conversou com o CachorroGato para uma entrevista exclusiva; onde abordou suas descobertas no que se refere à comunicação entre cachorros e humanos e as principais dificuldades enfrentadas pelos tutores de pets nos dias de hoje relacionadas ao comportamento de cães e gatos.
Recém voltado de uma viagem para os Estados Unidos – onde ministrou palestras especiais sobre os testes realizados para medir a capacidade dos cães em se comunicar com seres humanos por meio de sinais arbitrários – Alexandre Rossi discursou sobre os métodos e técnicas usados no experimento; mostrando como o comportamento animal pode influenciar nos processos de aprendizado e compreensão dos cachorros.
Os testes com a cadelinha Sofia
O tema principal das palestras ministradas por Rossi nos EUA foi o experimento realizado com a sua finada cadelinha de estimação: a vira-lata Sofia. Encontrada abandonada na rua, a cachorrinha foi adotada pelo especialista; que trabalhava na sua dissertação de mestrado e teve a ideia de usar a nova pet como objeto de estudo.
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Inspirado em testes realizados para com Kanzi - o chimpanzé bonobo que aprendeu a se comunicar com pessoas – Rossi desenvolveu um painel especial para incentivar a comunicação de Sofia; destacando símbolos específicos para uma série de ações e objetos específicos, como passeio, casa, comida e água, entre outros. Com a ajuda da ferramenta, a cadelinha foi ensinada a pedir o que desejava por meio do contato com o painel, aprendendo a mostrar as suas vontades com grande clareza em menos de um ano.
“A partir desse primeiro aprendizado, Sofia começou a associar as formas presentes no painel com outras formas que encontrava para pedir o que queria. No painel, o símbolo de passear era representado por algumas linhas – e ela passou a encontrar linhas em outros lugares para mostrar esse desejo quando não tinha a ajuda do painel. Junto com isso, outras comunicações mais elaboradas também começaram a aparecer; e a cadelinha passou a indicar vontades mais complexas também, como a de que queria comer na sua casinha – batendo a pata nos símbolos do painel que representavam comida e casa”, explica Alexandre.
Reconhecendo uma grande capacidade de compreensão e comunicação por parte da vira-latas, o especialista passou a observar outros fatores no seu comportamento que também poderiam indicar o seu aprendizado ou, simplesmente, ser mais um resultado do instinto natural do animal. Buscando uma confirmação de que a cadela era capaz de compreender frases inéditas, mas formadas com base em palavras já conhecidas pela pet; novos testes específicos foram realizados.
“Era preciso levar em consideração o fato de que os cães têm uma capacidade enorme de saber para onde uma pessoa está olhando ou apontando – já que, na grande maioria das vezes em que uma pessoa dá um comando para o cão, ela acaba focando o seu olhar no objeto em que está citando ou deseja que o animal busque; e isso é uma dica perfeita para qualquer cachorro. Nosso objetivo, no entanto, era saber se o animal era capaz de entender o que dizíamos no comando e; portanto, não podia haver nenhum outro elemento que influenciasse ou ajudasse o cão nesse sentido”, comenta Rossi.
No total, foram mais de dois anos de observação para que fosse concluído que, de fato, a cachorrinha Sofia era capaz de compreender frases inéditas e se comunicar com as pessoas com a ajuda do painel – ou mesmo, por meio da associação das formas presentes no painel com os objetos e desenhos encontrados no seu dia a dia. Infelizmente, o objeto de estudo de todo o projeto – a cadelinha vira-lata Sofia – faleceu em função das complicações de um câncer há alguns meses, com 15 anos de vida.
Mas, aproveitando-se das técnicas experimentadas previamente, Alexandre Rossi já ensinou a sua pet Estopinha a usar o painel para se comunicar com as pessoas – e já tem mais palestras e eventos agendados em outras partes do mundo para apresentar as suas conclusões em relação aos testes feitos com Sofia.
Entre os países que o Dr. Pet deve visitar apresentando os dados da sua investigação científica, estão Hungria e Inglaterra – onde Alexandre participa amanhã (08) como o único representante brasileiro de um seminário especial sobre comportamento animal, que será realizado na Universidade de Lincoln e conduzido por Daniel Mills (renomado especialista em comportamento animal).
As dificuldades ao lidar com o comportamento animal
Aproveitando a oportunidade, o Dr. Pet também abordou algumas questões especiais sobre o comportamento animal e a dificuldade que muitos novos (ou já antigos) tutores enfrentam no dia-a-dia ao lidar com cães ou gatos mais ‘rebeldes’. De acordo com ele, a Síndrome da Ansiedade da Separação é um dos maiores problemas relacionados ao comportamento dos pets nos dias de hoje – e há muitas medidas que podem ser tomadas para que esse tipo de quadro não se torne uma realidade em ainda mais lares, como dar a atenção devida ao animal e evitar mimá-lo demais.
“É importante que os novos donos de pets saibam com o que terão que lidar a partir do momento que o animal chega em casa; pois, em muitos casos, há quem leve um novo cãozinho pra casa sem ao menos lembrar de que ele vai fazer xixi e cocô. Outra coisa fundamental é que os novos donos entendam a necessidade de que o animal aprenda, pelo menos, os comandos mais básicos do adestramento – já que isso é a base do que fará o animal respeitar seu tutor e ter menos problemas de comportamento”, comenta o especialista.
Segundo ele, a proximidade entre os cães e os seres humanos nunca foi tão grande como hoje, e; tendo em mente que quanto mais bem educado for um cão, mais próximo ele poderá ficar das pessoas, é essencial que haja muito cuidado e atenção com essa questão – já que a educação e o bom comportamento do animal são os grandes objetivos para uma relação calma e feliz entre o pet e as pessoas que convivem com ele.
“Há muitas pessoas que ainda acreditam que, em função de os cachorros serem muito inteligentes, eles não precisam passar por treinamentos – já que são capazes de entender o que as pessoas querem. Mas essa inteligência toda dos cães pode ser usada tanto de forma boa como má, e um cão inteligente pode passar a ignorar os comandos do seu dono, justamente, por entender o que ele quer dizer e não achar que obedecer será algo vantajoso”, explica Alexandre.
Segundo Rossi, o ideal é que o processo de adestramento seja associado a sentimentos positivos e recompensadores, fazendo com que o animal fique feliz ao executar de maneira correta uma ordem ou comando – e é por isso que carinhos, brinquedos e petiscos são tão usados nesse tipo de processo. “O cão deve achar que é legal obedecer”, complementa, acrescentando que outro fator que comumente causa equívocos entre os tutores de cães está relacionado à escolha da raça do animal que será levado para casa.
“Ao mesmo tempo em que há rottweilers super dóceis, também há golden retrievers que são agressivos – e quem quer um novo cachorro dentro de casa precisa ter em mente que cada cão tem as suas características individuais. Por isso, o adestramento e uma educação voltada para a docilidade podem ajudar muito a formar a personalidade de um animal; no entanto, o comportamento dele no resto de sua vida não vai depender somente disso – já que cada animal tem características que são só dele”, conclui.
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